lunes, 22 de diciembre de 2014

TEXTO APRESENTADO NO EXAME DE FAIXA PRETA.-


TEXTO APRESENTADO NO EXAME DE FAIXA PRETA.

AUTOR: Helder Correia Lima.

Sinceridade do treino

Acredito que este tema se aplique a qualquer arte marcial que venhamos a praticar. Na realidade, não apenas às artes marciais, mas a qualquer coisa que venhamos a desenvolver. Nosso êxito está diretamente relacionado ao quão sincero nos dedicamos. Trazendo este assunto para o universo do aikido, posso afirmar que, desde que comecei a treinar esta arte marcial já me deparei com muitos questionamentos a respeito da eficiência do aikido em uma situação real de confronto.

 Me refiro a eficiência das técnicas de imobilização, das torções e projeções. Acredito que esse ceticismo é natural, uma vez que, cada vez mais presenciamos a banalização da violência nos diversos meios de comunicação e por outro lado, a degradação forçada de várias artes marciais, em decorrência da falta de ética de muitos praticantes. 

Sempre gostei de artes marciais e quando a oportunidade de praticar surgiu, já havia feito minha escolha. Comecei os treinos da mesma forma que muitos começam: me senti um pouco perdido, atrapalhado, mas com a certeza de que era aquilo que eu queria fazer e que iria continuar enquanto fosse possível. Sempre encarei o treino como algo sério, como um momento de aprender, praticar e tentar melhorar com o tempo. Sempre como um sentimento de gratidão, pelas diversas vezes em que fui corrigido pelo Sensei. Via ali, naquele momento, uma oportunidade de adquirir experiência.

Em virtude dessa forma de ver e encarar o treinamento acredito que a forma como treinamos é tão importante quanto o tempo que treinamos. Treinar o corpo, torna-lo resistente e apto para a prática das técnicas no tatame é muito importante, mas desenvolver uma atitude e um estado mental sincero é fundamental para avançar no desenvolvimento de qualquer arte marcial que você pratique. Muitas pessoas enfatizam o treinamento do corpo, a força física, e movimentos reflexos, e se tornam muito rápidas e fortes. Porém, muitas dessas pessoas acabam surpreendidas em situações inesperadas ou quando algo não sai como treinado em suas sequências de golpes. E é nesse momento, que muitas vezes não passa de uma fração de segundo, que elas se perdem e suas mentes não conseguem se adaptar a situação no tempo necessário.

Para que isso não ocorra é necessário conciliar o treinamento físico com o desenvolvimento de um estado mental consciente, que não se deixe levar pelas aparências, que tudo aceite e dessa forma, não sendo surpreendido. Um estado mental que não se antecipe, mas que se adapte.

Muitas vezes, durante o treinamento, nos conformamos em apenas repetir movimentos, algo puramente físico, quando na realidade, deveríamos aproveitar o momento, para desenvolvermos nossa sensibilidade. Aqui, não devemos confundir sensibilidade com fragilidade. A sensibilidade que devemos desenvolver é aquela que nos permita, perceber e acompanhar a dinâmica dos movimentos. Uma sensibilidade que se desenvolvida constantemente, nos permitirá entender a dinâmica das coisas ao nosso redor e assim, trilhar o melhor caminho.

Mas para isso, devemos ser sinceros em nosso treinamento. Quando tivermos a oportunidade de praticar com o nosso colega, devemos oferecer-lhe nossa sinceridade (Makoto). Em japonês, nada é tão simples como esperamos e na realidade é o mais simples que pode ser. Mas, devido a nossa cultura, nos acostumamos com o “complicado” e o “simples” nos parece estranho e confuso.

A sinceridade (Makoto) engloba conceitos como honestidade, dedicação, verdade, integridade e outros. Levando isso para o treinamento entre Uke e Nague, faz-se necessário, estarmos atentos a sentir nosso colega de treino e se desapegar de conceitos dualistas como forte/fraco, alto/baixo, gordo/magro, bonito/feio. O Uke, não deve executar a técnica pelo Nague, não deve se antecipar ou retardar o movimento, este é o momento em que o Uke deve treinar sua adaptação, sentir a ação e se adaptar ao movimento e o Nague por sua vez, não deve ir contra a dinâmica do movimento, mas sentir e ser capaz de somar e conduzi-lo.

É um treinamento constante e que deve ser realizado com o espírito de respeito e sinceridade. É assim que se começa a caminhar em direção ao desenvolvimento de algo real e verdadeiro. E dessa forma, com disse “Ô Sensei” MuriheiUeshiba, o confronto acabará antes mesmo de começar. Mas, se por ventura o Aikido não estiver presente, a técnica funcionará.

Helder Correia Lima

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